Campo Grande, Mato Grosso do Sul
Aldéia Urbana Terena 'Agua Bonita'
Brasil, 25 de Dezembro de 2009
Acordei cedo. Saí, com a câmera na mão, pro quintal.
A manhã era tranquila. Era quase 10:00 horas, e todo mundo continuava dormindo em casa do Cacique.
Aproveitei a tranquilidade para tirar algumas fotos, e para pensar no cotidiano.
Um conhecido passou pela frente da casa e me cumprimentou. Ele estava acompanhado por um senhor de barba branca. Ambos ficaram conversando, e se aproximaram. O homem de barba branca se presentou como o senhor Egídio.
Egídio me disse que ele tinha conhecido Bolívia, e também que tinha conversado com o Evo, presidente do meu país.
Egídio Brunetto faz parte do Movimento dos Trabalhadores sem Terra da América Latina.
Após a conversa, convidou-me para almoçar em casa dos amigos dele. Estavam fazendo um churrasco, comemorando o aniversário duma criança.
A verdade, eu tinha ficado com vontade de beber vinho desde a noite passada, assim que como já quase era meio dia, e ainda todos estavam dormindo, aprontei minha Canon com uma lente 28-70 mm e foi apenas andar em volta a casa do Cacique, para achar os vizinhos que já estavam aprontando o que iria ser uma grão festa.
Os donos de casa, e Egídio, de boné preto...
Cheguei e procurei o Egídio, (de boné preto, na foto acima), que veio a me-receber e presentar à familia. Ele disse-me que estavam celebrando o primeiro aniversário do filho dum amigo dele.
Me levou até a churrasqueira onde estava o pessoal mais animado, os mais novos bebendo cerveja.
Rogério (amarelo) e os amigos brasileiros
Havía muita carne pronta na mesa, eles me mandaram pegar um garfo e comer a vontade. Me deram um copo com cerveja, e um deles, apontando para a churrasqueira me disse: Você já tirou foto do nosso convidado especial?
Eu não tinha visto jamáis algo tão lindo, tão raro, tão bizarro, tão legal.
A cabeça de um dos dois porcos que os meus amigos assaram aquele dia...
Acima da churrasqueira,um porco assado me olhava (foto do encabeçado), . Tipo assim, como esses de desenho. Meio sorridente, meio macabro.
Aliás, eram dois porcos inteiros, mas um deles já quase havia sido comido.
O porco esticadinho, pronto para ser devorado pela faminta turma...
Uma mão amiga encheu meu copo com cerveja.
Foi uma bela festa.
Percebi com muito interés que entre os convidados haviam várias freiras.
Não beberam cerveja, lógicamente. Fui conversar com elas e fiquei surpreso: uma delas era colombiana, e a outra era do Ecuador.
A conversa começou em portugués. Logo que ficamos sabendo as nossas nacionalidades, conversamos em espanhol, mas, não sei porque, acabamos conversando em português.
'Las hermanas', as freiras colombianas e ecuatorianas...
A primeira caixa de cerveja acabou. Trouxeram mais.
Aqueles amigos me contaram que a noite passada ficaram acordados, comendo e bebendo.
Conversamos sobre fútebol, costumens dos nossos paises. Conversamos sobre mulheres e sobre cervejas. Os garotos enchiam meu copo, faziam piadas, me pediam que tirasse fotos das meninas que estavam na festa. Elas ficavam tímidas e fugiam da onipotência da minha lente.
Logo, logo, os meninos trouxeram mais uma caixa de cerveja geladinha...
Apareceu o aniversariante, um menino bonitinho, de um ano de idade. Com ele apareceram os balões, o bolo e mais convidados.
Aquela menina era gente boa e muito timida...
Tiramos uma foto familiar. Eram quase 40 pessoas, ou mais.
Cantamos o parabéns pra você, comimos bolo. E a carne da churrasqueira... a falta de quem quisesse comé-la, os homens famintos do fundo dimos fim com ela.
Satisfeitos...
Os convivas foram indo embora. Em menos de meia hora o local estava quase deserto.
Mas eu não queria ir embora. Não porque tenha estado bêbado, ou porque tivera fome ainda.
Achei legal aquele Natal com tantas pessoas, dois porcos assados, meninas timidas e cerveja fria.
Achei legal ter conhecido o Egídio, e todas aquelas pessoas, também. Achei legal me ver, sendo um completo desconhecido, compartilhando um Natal com 40 pessoas que eu também não conhecia.
O autor (vermelho), Rogério (amarelo), e os familiares dele
Conversando -eu com meu portugês muito ruim, mas mesmo assim-, em outra língua, que não era a minha.
Rindo com outras piadas. Olhando para outras meninas.
Interessante que um dia antes estava vivendo outra realidade naquela mesma aldeia. O Papai Noel magro e de bom coração.
Natal é assim mesmo. Une e reúne as pessoas. As famílias, os amigos. Os desconhecidos como eu, com novos amigos. Com pessoas simples e felizes.
Achei prudente continuar em outro lugar o meu solilóquio, me despedi. E pensando em aquelas questões, rodeei a casa, e voltei para a solidão do meu quarto.
A família inteira!!!
Gracias Egídio, Rogério e amigos!
Gustavo Zelaya
Fotógrafo
Dezembro 25, 2009
Cuaderno de Bitácora. Gustavo Zelaya: Una cámara fotográfica no solo hace parte de la realidad, también la transforma.
martes, 21 de septiembre de 2010
lunes, 13 de septiembre de 2010
NATAL: À NOITE
NATAL, 24 DE DEZEMBRO À NOITE
Hola hola, pessoal, tudo bem? Depois de uma semana e pouco, de asuência, volto para contar-lhes as historias que aconteceram na Agua Bonita, aldeia indígena urbana em Campo Grande.
Após olhar a árvore coração, voltei pra casa, e fiquei deitado assistindo tevê, uma coisa práticamente improdutiva, já que não gosto de tevê e odeio aqueles especiais de natal, falsos e nojentos.
Eu ia achar, acasso, graça alguma vendo a Xuxa fazendo show, enquanto aqui fora os meninos estão esperando o retorno dum Papai Noel magro que fez eles sentir aquele espiritu de Natal?
O Cacique chegou da rua, e falou para a gente assistir a Paixão de Cristo, de Mel Gibson. Eu não tinha assistido, talvez por temor, já que sempre me falaram que era muito sangrenta.
Mesmo assim começamos assistir o filme. Foi bom, mas tivemos que parar porque tinhamos que acender a churrasqueira e preparar a carne: frango, linguiça, e bifes.
Muitas pessoas vieram à casa do Cacique Edison: parentes, amigos, conhecidos, e algum desconhecido, como era eu naquele então, para tuda a família dele.
Mas eu fiquei pensando no filme, é forte.
Fiquei pensando também que seria o meu primeiro natal fora de casa, longe da família.
Mas estava tranquilo. Falei para Edison que eu queria comprar uma garrafa de vinho pra fazer um brindi. Ele me falou que tuda a família dele era evangélica, assim que não bebiam álcool.
Antes da hora da janta, a gente rezou e eu rezei ao meu jeito. Era meia noite, e comimos bem.
Após o jantar, vi me rodeado de 3 mulheres Terena, que foram convidadas pela Xiomara, irmã do Cacique.
Senti-me confundido, elas tinham muita semelhanza umas com outras. Pareciam ser irmãs, mas eram amigas apenas.
Fui convidado por elas a fazer-lhes companhia. Tenho que admitir que fiquei nervoso, lógicamente elas não eram mulheres amazônicas, eram mulheres Terena, mas eu sentia que havia sido preso, como naquelas velhas historias de homens capturados pelas valentes e bravas mulheres da amazônia.
É bom deixar claro que só fiquei nervoso. Logo reflecti sobre o meu ignorante jeito de pensar, elas eram umas boas pessoas, e ficamos conversando e rindo até a uma e meia horas da manhã.
Pediram para tirar foto junto, e após a sessão, já que era tarde, fui descansar ao meu cuarto.
Deitado no chão, achei que possivelmente a árvore coração era um sinal. Mas eu não me sentia preparado essa noite, para ficar apaxionado.
Aliás, 5 meses depois, comprovaria mais uma vez essa teoria, mas essa é farinha dum outro costal.
Achei então, sem duvida, que aquela árvore, referia se ao grão coração que tem o povo brasileiro. Não estava errado. Aquela noite de natal foi muito bonita, e apessar das saudades pela minha família, já que não tinha me comunicado aquele dia, dormí tranquilo, feliz de passar o meu primeiro natal, nas distantes, calurosas e lindas terras do Brasil.
Até a próxima!
Gustavo Zelaya
Campo Grande, MS. 24 de Dezembro, 2009.
Hola hola, pessoal, tudo bem? Depois de uma semana e pouco, de asuência, volto para contar-lhes as historias que aconteceram na Agua Bonita, aldeia indígena urbana em Campo Grande.
Após olhar a árvore coração, voltei pra casa, e fiquei deitado assistindo tevê, uma coisa práticamente improdutiva, já que não gosto de tevê e odeio aqueles especiais de natal, falsos e nojentos.
Eu ia achar, acasso, graça alguma vendo a Xuxa fazendo show, enquanto aqui fora os meninos estão esperando o retorno dum Papai Noel magro que fez eles sentir aquele espiritu de Natal?
O Cacique chegou da rua, e falou para a gente assistir a Paixão de Cristo, de Mel Gibson. Eu não tinha assistido, talvez por temor, já que sempre me falaram que era muito sangrenta.
Mesmo assim começamos assistir o filme. Foi bom, mas tivemos que parar porque tinhamos que acender a churrasqueira e preparar a carne: frango, linguiça, e bifes.
Muitas pessoas vieram à casa do Cacique Edison: parentes, amigos, conhecidos, e algum desconhecido, como era eu naquele então, para tuda a família dele.
Mas eu fiquei pensando no filme, é forte.
Fiquei pensando também que seria o meu primeiro natal fora de casa, longe da família.
Mas estava tranquilo. Falei para Edison que eu queria comprar uma garrafa de vinho pra fazer um brindi. Ele me falou que tuda a família dele era evangélica, assim que não bebiam álcool.
Antes da hora da janta, a gente rezou e eu rezei ao meu jeito. Era meia noite, e comimos bem.
Após o jantar, vi me rodeado de 3 mulheres Terena, que foram convidadas pela Xiomara, irmã do Cacique.
Senti-me confundido, elas tinham muita semelhanza umas com outras. Pareciam ser irmãs, mas eram amigas apenas.
Fui convidado por elas a fazer-lhes companhia. Tenho que admitir que fiquei nervoso, lógicamente elas não eram mulheres amazônicas, eram mulheres Terena, mas eu sentia que havia sido preso, como naquelas velhas historias de homens capturados pelas valentes e bravas mulheres da amazônia.
É bom deixar claro que só fiquei nervoso. Logo reflecti sobre o meu ignorante jeito de pensar, elas eram umas boas pessoas, e ficamos conversando e rindo até a uma e meia horas da manhã.
Pediram para tirar foto junto, e após a sessão, já que era tarde, fui descansar ao meu cuarto.
Deitado no chão, achei que possivelmente a árvore coração era um sinal. Mas eu não me sentia preparado essa noite, para ficar apaxionado.
Aliás, 5 meses depois, comprovaria mais uma vez essa teoria, mas essa é farinha dum outro costal.
Achei então, sem duvida, que aquela árvore, referia se ao grão coração que tem o povo brasileiro. Não estava errado. Aquela noite de natal foi muito bonita, e apessar das saudades pela minha família, já que não tinha me comunicado aquele dia, dormí tranquilo, feliz de passar o meu primeiro natal, nas distantes, calurosas e lindas terras do Brasil.
Até a próxima!
Gustavo Zelaya
Campo Grande, MS. 24 de Dezembro, 2009.
jueves, 2 de septiembre de 2010
NATAL, TERCEIRA PARTE: TARDE, NOITE E O PORCO
TARDE: ÁRVORE CORAÇÃO
Aquela tarde do dia 24, véspera de natal, e como já se fez costumem pra mim com o passar dos dias na Agua Bonita, fiquei atirado na cadeirona que tinham pra olhar o paisagem, aí, no quintal do Cacique.
Era bão exercício de observação. Notei por exemplo que as famílias tem muito parecido entre os que a conformam: filhas com mães, filhos com pais. Pais com filhas e mães com filhos. Particularmente houve um detalhe que chamou muito a minha atenção: O jeito similar demais ao andar.
Você poderia ter reconhecido quem era parente, apenas pelo jeito de andar.
Além de ver alguma menina interesante que chamou a minha atenção, ou as cunhadas do meu amigo, aquela tarde não houve, no lapso das quatro horas até as dezoito, novidade alguma.
Tipo dezoito horas, me levanto, com dor nas costas pela cadeirona, e vou à porta do quintal, que comunica a rua com a casa. Olho pra a minha direita, e vejo uma extranha figura acima do tronco duma árvore.
Me aperto um pouco, e câmera em mão, vou percebendo que tem forma dum coração.
Mas daqueles corações de desenho.
Pensei então: é uma sinal do caminho? conhecerei o amor, nestas terras distantes?
distantes do meu berço, da minha terra natal?
Aquela noite pensei no asunto, e chguei à conclussão de que poderia ser possivel.
Mas não essa noite. Não.
Misteriosa árvore. Os meninos, jovens, que tal vez gostam de botar nomes a tudas as coisas me disseram: Você já viu a Árvore Coração?
Talvez foi a forma do folhagem daquela Árvore exquisita. Talvez foi o local, semideserto, semi sumido na pobreza. Tal vez foi a riqueza daquele povo que mora lá, o q deu sentido a esse coração: povo de coração grande.
Ou tal vez, estou sendo poético demais nas minhas apreciações e o q realmente me levou a tirar aquela foto, foi a gamma de cores da tarde.
Até mais!
Gustavo Zelaya
Dezembro 24, Agua Bonita, Campo Grande, MS, Brasil.
Aquela tarde do dia 24, véspera de natal, e como já se fez costumem pra mim com o passar dos dias na Agua Bonita, fiquei atirado na cadeirona que tinham pra olhar o paisagem, aí, no quintal do Cacique.
Era bão exercício de observação. Notei por exemplo que as famílias tem muito parecido entre os que a conformam: filhas com mães, filhos com pais. Pais com filhas e mães com filhos. Particularmente houve um detalhe que chamou muito a minha atenção: O jeito similar demais ao andar.
Você poderia ter reconhecido quem era parente, apenas pelo jeito de andar.
Além de ver alguma menina interesante que chamou a minha atenção, ou as cunhadas do meu amigo, aquela tarde não houve, no lapso das quatro horas até as dezoito, novidade alguma.
Tipo dezoito horas, me levanto, com dor nas costas pela cadeirona, e vou à porta do quintal, que comunica a rua com a casa. Olho pra a minha direita, e vejo uma extranha figura acima do tronco duma árvore.
Me aperto um pouco, e câmera em mão, vou percebendo que tem forma dum coração.
Mas daqueles corações de desenho.
Pensei então: é uma sinal do caminho? conhecerei o amor, nestas terras distantes?
distantes do meu berço, da minha terra natal?
Aquela noite pensei no asunto, e chguei à conclussão de que poderia ser possivel.
Mas não essa noite. Não.
Misteriosa árvore. Os meninos, jovens, que tal vez gostam de botar nomes a tudas as coisas me disseram: Você já viu a Árvore Coração?
Talvez foi a forma do folhagem daquela Árvore exquisita. Talvez foi o local, semideserto, semi sumido na pobreza. Tal vez foi a riqueza daquele povo que mora lá, o q deu sentido a esse coração: povo de coração grande.
Ou tal vez, estou sendo poético demais nas minhas apreciações e o q realmente me levou a tirar aquela foto, foi a gamma de cores da tarde.
Até mais!
Gustavo Zelaya
Dezembro 24, Agua Bonita, Campo Grande, MS, Brasil.
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